sexta-feira, abril 16, 2010

Porque adoro confusão

(da série: "Cartas de Daniel para as Princesas das Cidades Invisíveis ")

Um falcão chega à janela de Daniel e o desperta com um silvo. Quando Daniel abre os olhos ainda confuso, a ave deixa cair do seu bico um pequeno bilhete onde se lia "Porque alguém se apaixonaria por Confusão?" Enquanto o fiel mensageiro da Princesa do Moinho aguardava respeitosamente e pacientemente à janela, Daniel escreveu as seguintes linhas:


Confusão é vida, é movimento, é montanha-russa, é moinho... É o Ser e não o Nada. É o Frio com ou sem cobertor ou o Calor com ou sem um refrigerante, mas não o morno. Ah, não. Não o morno. É o destempero que gera as mais variadas formas de vida. O Universo surgiu assim, confuso. E sem confusão seríamos até hoje uma semente cósmica com todo esse pontencial de Universo encerrado em si. As estrelas e as flores são filhas da confusão.

Me apaixonaria por ti porque estás viva. Porque tu sofres e ris. E choras. Porque tu vais para a caverna ou fundo do poço mas também alças grandes vôos. Porque tu estás comigo na montanha russa existencial, o que é melhor do que estar dentro de um tupperware em uma prateleira de algum armário perdido da Zambonávia.

Me apaixonaria por ti porque nesses olhos lindos é possível vislumbrar toda a densidade de uma existência (por certo às vezes mal-canalizada). Porque mais importante do que o efeito é a força que move. Os moinhos não seriam nada sem os ventos. E se os ventos agora são vendavais em outros momentos eles também são doces brisas.

Me apaixonaria por ti porque nesse lindo sorriso reflete o brilho e a espuma das ondas. Porque as ondas atestam que o oceano é confusão, e se não o fosse, seria apenas um lago. E mesmo o lago é confuso, porque às vezes ainda se acha chuva.

Me apaixonaria por ti por empatia. Porque quem já sofreu e viveu na confusão sabe respeitar quem sofre e vive em confusão. Porque os melhores interlocutores são aqueles que partilham os mesmos sonhos, medos e anseios... Porque um fio invisível liga os corações que estão em movimento. Porque um só é confusão, mas dois já são transformação.

Me apaixonaria por ti porque mesmo uma 'TPM braba' é movimento, é energia. É a confusão no sangue, nos hormônios e na alquimia das emoções. E é ciclo. Como os motores, as hélices e as tempestades.

Me apaixonaria por ti porque meu coração (de leão) é grande e tem espaço para confusão.

Aliás; paixão é confusão...

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domingo, abril 11, 2010

TPM



Enquanto isso, numa savana não muito longe daqui, Leônidas chega em casa tarde e desafortunadamente havia esquecido que Leonora estava "naqueles dias". "Cadê meu chocolaaaaate???" foram as últimas palavras que ele ouviu...

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sábado, abril 10, 2010

Valores Invertidos

Acaba sendo bem difícil manter a neutralidade de alma e transitar num mundo cujos valores já se encontram invertidos. O silêncio é de ouro, mas torna-se negativo em um mundo de hipócritas convictos. Um sinal que me fez ver que a coisa tava séria aconteceu outro dia quando uma amiga me perguntou para quem eu estava torcendo no Big Brother. Quando lhe respondi que muito feliz estava em não assistir televisão (uso-a como 'monitor' para filmes no DVD) disse-me ela: "Nossa, que 'alienado' você está."... Isso naturalmente me deixou temeroso... Minha opção em não ser um telespectador dessa caixinha de pandora chamada TV, em não participar dessa grande egrégora de valores distorcidos pela publicidade e pelo 'Governo Oculto' empenhados em cultivar uma sensacionalista ansiedade, medo e pessimismo, tornara-se 'alienação' de uma forma tão simples e fulminantemente definida.

Essa inversão de valores vi muito bem representada algum tempo atrás, ao assisitir involuntariamente televisão numa lanchonete. Enquanto eu absorvia um sanduíche de queijo e um açaí, Faustão parabenizava um camarada que foi ao ar por ter encontrado uma carteira, com documentos e razoável quantia em dinheiro, e tê-la devolvido integralmente ao seu dono. A ação, tomada pela TV como de venerável honestidade, rendeu bons minutos de congratulações ao camarada, que nada mais fez que o seu dever, afinal, até onde os meus valores me indicam, ser honesto é um dever de qualquer ser humano e não deveria ser motivo de parabenização.

Explico-me. Tão estranho para mim seria um outro camarada aparecer no Faustão para receber as congratulações por não ter assassinado uma pessoa sequer. Ou não ter abusado sexualmente alguém, ou não ter furtado um carro... Mesmo que existam tendências sociais, pelo descaso desse sistema tão corrupto que participamos, isso nunca seria motivo para parabéns. Mas não duvido nada de que com alguns anos mais, nós, que como rãs cozinhamos pouco a pouco na água quente sem perceber a situação, isso se torne comum.

Por isso que já puxei a cordinha para descer na próxima parada existencial. Até lá ficarei disfarçado de gente nesse ônibus maluco que vivemos. E se me perguntarem para quem torço no Big Brother, digo que para "aquele sujeito esperto" ou "aquela moça boazinha" ou qualquer coisa generalista, que permita a pessoa que esteja me inquerindo pegar o gancho e dizer: "Ah, o(a) Fulano(a)?" e eu diga "Sim, ele(a) mesmo(a)!" E assim seguiríamos os dois felizes pela comunicação realizada...

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