sábado, abril 10, 2010

Valores Invertidos

Acaba sendo bem difícil manter a neutralidade de alma e transitar num mundo cujos valores já se encontram invertidos. O silêncio é de ouro, mas torna-se negativo em um mundo de hipócritas convictos. Um sinal que me fez ver que a coisa tava séria aconteceu outro dia quando uma amiga me perguntou para quem eu estava torcendo no Big Brother. Quando lhe respondi que muito feliz estava em não assistir televisão (uso-a como 'monitor' para filmes no DVD) disse-me ela: "Nossa, que 'alienado' você está."... Isso naturalmente me deixou temeroso... Minha opção em não ser um telespectador dessa caixinha de pandora chamada TV, em não participar dessa grande egrégora de valores distorcidos pela publicidade e pelo 'Governo Oculto' empenhados em cultivar uma sensacionalista ansiedade, medo e pessimismo, tornara-se 'alienação' de uma forma tão simples e fulminantemente definida.

Essa inversão de valores vi muito bem representada algum tempo atrás, ao assisitir involuntariamente televisão numa lanchonete. Enquanto eu absorvia um sanduíche de queijo e um açaí, Faustão parabenizava um camarada que foi ao ar por ter encontrado uma carteira, com documentos e razoável quantia em dinheiro, e tê-la devolvido integralmente ao seu dono. A ação, tomada pela TV como de venerável honestidade, rendeu bons minutos de congratulações ao camarada, que nada mais fez que o seu dever, afinal, até onde os meus valores me indicam, ser honesto é um dever de qualquer ser humano e não deveria ser motivo de parabenização.

Explico-me. Tão estranho para mim seria um outro camarada aparecer no Faustão para receber as congratulações por não ter assassinado uma pessoa sequer. Ou não ter abusado sexualmente alguém, ou não ter furtado um carro... Mesmo que existam tendências sociais, pelo descaso desse sistema tão corrupto que participamos, isso nunca seria motivo para parabéns. Mas não duvido nada de que com alguns anos mais, nós, que como rãs cozinhamos pouco a pouco na água quente sem perceber a situação, isso se torne comum.

Por isso que já puxei a cordinha para descer na próxima parada existencial. Até lá ficarei disfarçado de gente nesse ônibus maluco que vivemos. E se me perguntarem para quem torço no Big Brother, digo que para "aquele sujeito esperto" ou "aquela moça boazinha" ou qualquer coisa generalista, que permita a pessoa que esteja me inquerindo pegar o gancho e dizer: "Ah, o(a) Fulano(a)?" e eu diga "Sim, ele(a) mesmo(a)!" E assim seguiríamos os dois felizes pela comunicação realizada...

.

1 Comments:

At 5:09 PM, Blogger Juh S. said...

tv me irrita demais também, se não é para assistir filmes e tudo mais.
BBB me fere a inteligência. E passamos de loucos por não gostar disso.
Tenho alternâncias de lucidez e de passividade social. Lucidez que me leva a loucura e passividade social que me leva a burrice.
Prefiro ser louca do que ser burra.

Mas como não conseguimos ser loucos o tempo todo, continuo fingindo que sou normal as vezes e os outros continuam fingindo que não veem a realidade acontecendo.

belo consenso hãn?

 

Postar um comentário

<< Home