terça-feira, abril 05, 2011

Mulheres pequenas em altas torres

De vazio em vazio ele reunia dela uma coletânea de intenções veladas, enviadas pelos subterrâneos digitais, canais estes paralelos, com destino certo e invisível como esgotos, mas único, longe de quaisquer olhos públicos, mas que infelizmente eram os mesmo canais por onde também passam os ratos (digitais)...

Não. Ela não poderia expor-se ao ridículo. Amar era ridículo e ela já tinha uma coleção de ridicularidades no seu saquinho experiencial fechado a zíper barato que querab sempre e abre tudo de novo. Há uma imagem de mulher idependente a ser protegida. (Pelo menos ele pensava assim, o lado melhor, para que o motivo disso não fosse por outro lado as mentiras e as necessidades vampirescas paralelas, afinal poderia tudo ser apenas pele, havia ela dito uma vez, com uma língua mais ferina que 144.000 adagas).

Mas era difícil para ele sustentar esse puritanismo virtual, até porque ao invés de expressar-se ela sempre recuava, e sabem bem os covardes que esconder-se nas sombras é muito mais fácil que enfrentar a luz.

"Delete". Simples assim. Como num passe de mágica elimina-se todos os problemas, todas as satisfações, todas as possíveis situações constragedoras, todas as explicações paralelas, todas as possibilidades de se pôr à prova, todos os dizeres não ditos, os amores velados, os pactos tácitos ou não, as lembranças ainda presentes, os amigos e os falsos novos amigos, os ex agora novos amigos, aqueles que dizem "que durma bem" e aqueles que obstinadamente tentam retornar ao útero de sua mãe através de falsa crise de indentidade (sexual ou musical, que o seja). Todos, porque até eliminar muita gente é um ato ainda mais altruístico e liberador, ela vai dizer. Simples assim. Como desligar a televisão quando começa o noticiário, para evitar exposições. Sangue não visto é sangue inexistente. Como matar a testemunha que pode depôr no tribunal, mas matá-la de fome, que não é assassinato. É inanição. E inanição, silêncio e a exclusão de mensagens, sentimentos e um perfil, certamente é perdoável, é justificável e engula isso logo, meu senhor, por que senão esfria e vai achar ruim e aí a culpa não é minha.

Tudo isso para que ela não caia da alta torre da imagem idealizada e apresentada. Tornar público o que supostamente a diminui como mulher.

(Ele sabe que fechar a porta é fácil. O que ele quer é a ver abrindo.)

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